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2.2.09 

2009

2009 - Método DáCe - Desconfiar - Arriscar - Confiar - Experimentar


Todos os anos, por esta altura, o mundo está quase quase quase a acabar. É antes do Natal, momentos em que sofregamente se marcam jantares, como se fôssemos morrer no dia 25 e nos tivéssemos de despedir de tudo e de todos até ao bater da fatídica badalada. O Natal do Senhor é a Páscoa do Homem. No ano Novo renascemos. E aqui manda a praxe que se façam planos. Que se olhe em frente. Na verdade olhar em frente é apenas um modo de esquecer aqueles dias atrás em que tudo ia acabar. Se precisar de esquecer o jantar da empresa, a consoada comprada numa loja de tias, ou o pegajoso da calda dos sonhos que só lhe largou os dedos em 2009 aqui ficam quatro tópicos para comer bem no ano que temos pela frente.
É uma proposta de ideais contraditórias: confiar, desconfiar, improvisar e praticar.

Desconfiar. Desconfie de empregados que não conhecem a carta. Desconfie de buffets. Desconfie de menus temáticos. Desconfie se não lhe mostrarem a ementa. Desconfie de chefes cuja formação culinária se fez a almoçar no bar da faculdade. Desconfie dos críticos deslumbráveis. Desconfie dos canalizadores electricistas que tanto escrevem de vinhos como de comida. Desconfie de cozinheiros saltitões. Desconfie se for mal tratado. Desconfie de restaurantes que o enganam nas contas. Desconfie de recomendações de amigos que não se lembram o que é que comeram no restaurante que recomendam. Desconfie de saladas excelentes. Desconfie. O dinheiro é seu. A tripa é sua. O tempo é seu. Não coma o que os outros lhe querem enfiar pela goela abaixo. Desconfie.

Praticar (em casa). Comer fora é um desporto da boca e do espírito. Há ganhar, há perder. Ir a um restaurante é poder pontuar. Treine-se em casa. Aguce os sentidos. É preciso estudar. Saber distinguir batatas fritas congeladas de verdadeiras. Peixe fresco de congelado. Dourada de mar, de dourada de aviário. Ir construindo uma memória. Um padrão.


Arriscar. Sem preconceitos. Não ligue a modas. Explore Lisboa, sem rede. Dê uma chance ao acaso (por exemplo, usando o método "d-e-d-e", saia de casa, ou do trabalho, vire para a direita, depois na primeira à esquerda, primeira à direita e primeira à esquerda e coma no primeiro restaurante ou café que aparecer – pode enviar o resultado para a TimeOut). Experimente restaurantes de etnias variadas. Pergunte ao ucraniano da Tv Cabo onde é que ele almoça ao Domingo.

Confiar. Mas como quem não confia não é de confiar, confie em ementas tradicionais. Confie no seu instinto. Confie em dicas de homens gordos. E acima de tudo confie nas estrelas da Time Out. É caro? Poupe nos almoços gordurentos, leve comida de casa para o emprego. Ao fim de um mês experimente um bom restaurante (um 5 ou 6 estrelas da TimeOut ou, se não puder, um qualquer com estrela Michelin).

Lourenço Viegas

Contraprovador

  • Lourenço Viegas, 54 anos, é geólogo e crí­tico gastronómico. Colabora semanalmente na Time Out Lisboa. Nasceu em Lourenço Marques e vive no Ribatejo. Tem duas filhas.
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