« Home | Chamuças (Ali kebab house) » | Cova Funda (4/5) » | Taberna Ideal (4/5) » | Casanostra (5/5) » | Zaafran (3/5) » | Isaura (3/5) » | Spot Chiado (4/6) » | Na cozinha com Nigella » | Jules (6/6) » | Pessoa (4/6) » 

21.7.09 

Casa México (2/5)

A Casa México tem tanto a ver com o México como Os Maias do Eça de Queirós. É o México visto por portugueses, com aquela objectividade sofisticada desenvolvida numa viagem de finalistas, num cruzeiro, ou numa semana, oito dias sete noites tudo incluído em Punta Cana (que não é no México, mas para o efeito é igual).
A Casa México é na Avenida D. Carlos, mesmo ao lado do petulante Café República, quem desce à esquerda. A Avenida D. Carlos é bonita, como tudo o que acaba em rio e tem jacarandás que ficam roxos no tempo dos jacarandás. O restaurante só está aberto ao jantar, o que é meia boa-notícia.
Descem-se umas escadas. Empregados simpáticos, pouca luz. Grupos e casais, heterogenia estética, mix social. A fauna desenvolve-se, enjoativa e gordurenta, naquela sala escura, a que as margueritas dão um tom de alegria artificial (haverá outra?).
Guacamole à portuguesa, ainda mais baço e alcalino do que o normal, com uns totopos engordurados, servido de entrada (dizem que no México guacamole é sempre acompanhamento, ou molho de pratos e não prato em si).
Os camarões Vallarta, além de um aspecto muito pouco sensual, tinham travo e odor amargo que lembrava petróleo (mas que devia ser apenas do chili mal cozinhado). O tamanho dos camarões, a generosidade da dose, os 23 euros e meio, nada fazia prever aquele sabor.
Enchiladas de frango, sem história, a não ser que estavam quase frias. Tacos de bistec com uma carne péssima de consistência e sem sabor, acompanhados de uns feijões refritos com aspecto de terem sido re-re-reaquecidos num microondas, desidratados, pulverizados. Empanadas achiote feias e sem distinção de sabor nos recheio, gigantes pasteis de massa tenra.
Tento esquecer-me do que (me) está a acontecer. Relembro o caso Saltillo, o enjoo aumenta. Quero reconciliar-me com o local, mas nem o sorriso verdadeiro e bonito da empregada salva. Nem o pontapé do Negrete no Mundial de 86 me devolve uma ponta de vontade de até para mim fingir prazer (depois do masculino, o orgasmo gastronómico e o mais difícil e menos ético de simular).
Ando atento a sinais, será que é o Negrete a chave daquele restaurante, um homem que só marcava golos quando jogava com a camisola de clubes mexicanos ou da selecção mexicana? Será que é impossível haver bom México em Lisboa? Talvez. E a Hola? Pensa na Hola! Pensa na Hola! Mas só me vem à cabeça a condensa de Barcelona da iola, numa cadeira de rodas.
Não há mal que sempre dure. Excelentes arrozes, quer o branco, quer o mexicano, amarelado. Soltos, com sabor e personalidade. Quesadillas de cogumelos boas.
As sobremesas ok, umas mais mexicanas outras menos. Mais de 30 euros por pessoa. Em suma, nem mexicano, nem bom, nem barato.
Cá fora respira-se a Avenida D. Carlos, o ar fresco. É não olhar para trás. Talvez com os gases que se começam a formar nas furnas do meu ventre tenha uma insónia, o pretexto que falta para voltar à civilização d’Os Maias.
Lourenço Viegas

Casa México
Av D. Carlos I, 140 (Santos)
Lisboa

Contraprovador

  • Lourenço Viegas, 54 anos, é geólogo e crí­tico gastronómico. Colabora semanalmente na Time Out Lisboa. Nasceu em Lourenço Marques e vive no Ribatejo. Tem duas filhas.
Powered by Blogger
and Blogger Templates