« Home | Isaura (3/5) » | Spot Chiado (4/6) » | Na cozinha com Nigella » | Jules (6/6) » | Pessoa (4/6) » | Basmati » | Manuel Caçador (4/6) » | O Madeirense - Amoreiras (2/6) » | Coelho da Rocha (4/6) » | Bénard (2/6) » 

21.7.09 

Zaafran (3/5)

O indiano que não pica

Admito que os restaurantes incha me atraem. Incha é uma denominação criada para a categoria de restaurantes de comida indiana e de comidas da China. Uma denominação criada quer dizer uma denominação inventada. Todas as denominações são inventadas.
O problema dos restaurantes incha é a bipolarização. Bipolarização quer dizer dois extremos, dois pólos (não quer dizer, como se escreve nos jornais, essas gaiolas de papagaios de clichés, o reforço de dois partidos situados ao centro). Dizia que os restaurantes incha ou são maus ou são bons. Não há nada no meio. O problema é que enquanto um restaurante indiano bom é normalmente mau e um restaurante indiano mau é normalmente bom, nos restaurantes chineses se passa exactamente o contrário: os restaurantes bons são bons, e os maus são maus.
Falta aos inchas coisas diferentes. Restaurantes que não sejam a desgraça culinária dos dragões dourados do chopesoi de amêndoas e lulas com ananás, mas que não sejam, por outro lado, o nihilismo do bom gosto das várias houses of Goa, de grades nas janelas e nossas senhoras de Fátima dentro de caravelas do Vasco da Gama.
O Zaafran entra no grupo dos poucos restaurantes de inspiração indiana, agradáveis ao toque, suaves na boca, com cuidados e onde se nota uma vontade de evolução (por exemplo, Tamarind).
É mesmo ali na rotunda da Estefânia, o centro ex-cêntrico da cidade. E o sítio está bem escolhido (e é útil para explicar, já que ninguém percebe o nome, e pedem sempre para repetir, é dizer que é o indianao mesmo na rotunda da Estefênia).
O serviço é familiar e pessoal (por oposição a impessoal), e isso é mais bom do que mau. A decoração estilo catálogo Área 2005, “ambiente exotic”. Preços a rondar os vinte e cinco euros por pessoa, com menu de almoço afixado à porta mais barato (não me recordo do preço, porque ninguém me falou dele lá dentro).
Um caril de gambas interessante, suave. O arroz, que nos inchas nunca falha, devia estar melhor, e não naquele género trincati (trinca e basmati).
O nan é bom, simples ou com queijo. Nan com queijo é assim como uma chamuça com azeite, mas nem fica mal. As chamuças estavam boas, fritas no ponto em óleos muito decentes.
Sobremesas suaves, mas com especiarias, excelentes (uns furos acima do resto). Por exemplo, o gajar halva, um purezinho de cenoura, morno, com pistáchio é reconfortante. E aqui uma marca no talão de caixa da vida, o momento em que se começa a gostar dos doces dos outros, aí onde se solta a última trela nacionalista.
O Zaafran é um restaurante interessante e novo, onde se pode levar a sogra porque não pica. Temos muito a ganhar se começar a arriscar nos sabores e a tentar surpreender a clientela que já é muita.


Lourenço Viegas
Zaafran

Largo D. Estefânia
***
Razoável

Contraprovador

  • Lourenço Viegas, 54 anos, é geólogo e crí­tico gastronómico. Colabora semanalmente na Time Out Lisboa. Nasceu em Lourenço Marques e vive no Ribatejo. Tem duas filhas.
Powered by Blogger
and Blogger Templates