« Home | Manuel Caçador (4/6) » | O Madeirense - Amoreiras (2/6) » | Coelho da Rocha (4/6) » | Bénard (2/6) » | Sommer (3/6) » | 2009 » | O Polícia (3/6) » | Faz Frio (3/6) » | Kaffehaus (4/6) » | Ibo (4/6) » 

4.3.09 

Basmati

O arroz que dá sede

Há comidas que dão fome e há comidas que dão sede. O arroz basmati dá sede. A comida que dá fome é diferente da comida que dá sede, e a diferença está mais no que tira do que no que dá. A comida que dá sede, tira a sede. E nada mais inquietante do que nos dar a sede e nada mais reconfortante do que a sede nos ser tirada.

Tenho com este grão asiático a mesma relação que certos artistas com um pó afegão (e não é de arroz, essoutro pó... de arroz – falsete – lá lá lá). O arroz normal dá fome. O arroz basmati dá sede.

Também há mulheres que dão sede, mulheres com cheiro de líchia. Mulheres que dão fome são as mulheres com cheiro de charcutaria. O arroz basmati é fácil de fazer e delicado de comer (o outro, o arroz normal, é delicado ao fazer e bruto ao comer). O arroz basmati fumega melhor, vapor fragrante, e pode ser comido só. Comprado num qualquer supermercado com preocupações de comércio justo, fica mais pesado no bolso mas mais leve na alma, e sentimo-nos, a cada garfada, verdadeiros abolicionistas.

O arroz basmati é o que melhor embebe de molhanga exótica. E por aqui devemos ficar. É que usar basmati em arroz doce, arroz de polvo, arroz de grelos, de carne ou de bacalhau devia ser punido com pena mediacapital (reencarnação infinita dentro de um telejornal de sexta-feira da TVI).

Lourenço Viegas

Contraprovador

  • Lourenço Viegas, 54 anos, é geólogo e crí­tico gastronómico. Colabora semanalmente na Time Out Lisboa. Nasceu em Lourenço Marques e vive no Ribatejo. Tem duas filhas.
Powered by Blogger
and Blogger Templates