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27.7.06 

Clube de Jornalistas (Lisboa)

A mesa no quintal

É claro, querida, que chegado o Verão devia adaptar a coluna: tomar o estilo do estio e escrever sobre restaurantes à beira-mar onde o peixe grelhado é divino. Eu sei que ninguém tem pachorra para ler, em Agosto, sobre restaurantes de comidas elaboradas, numa Lisboa deserta. É claro que o que apetece são umas saladinhas. Esplanar. Sangria de champagne. Pezinhos na areia.
Eu sei tudo isto, e como a menina é capaz de nem ser a única a pensar assim, não digo o que me vai na alma, que isso dos restaurantes de Verão é de quem não sabe comer, que peixe grelhado divino tem tanto engenho como vencer o festival da canção com uma letra da Rosa Lobato Faria, e que comer ao ar livre é a melhor maneira de estragar um jantar.
O peixe grelhado, dizia o meu mestre, simboliza a vitória de dona de casa que cozinha todo o ano e quer férias na casa da Costa com o Costa ao grelhador.
Faço uma concessão e escolho escrever sobre um restaurante ao ar livre. Em Lisboa, que isso da praia e dos Algarves é para quem não tem medo de ser feliz.
No restaurante do Clube de Jornalistas, sentimo-nos com aquelas famílias da Lapa, que imaginamos jantarem sempre num jardim, com o spleen no olhar.
Repare, adoro o conceito de comer ao ar livre, como no Padrinho ou no Beleza Roubada. É como caminhar até Santiago de Compostela: adoro a ideia, odeio a prática.
No Restaurante do Clube de Jornalistas, ultimamente, a comida é boa. Digo ultimamente porque ainda guardo o enjoo de certas refeições surreais aí havidas há uns anos (chamava-se o Acontecimento, penso). O que vale é que os chefes parecem parar por lá pouco. Aliás, nota-se um certo prazer nos empregados quando desfiam o número de chefes que por lá passaram.
Os pratos do dia foram bem pensados e executados: tranche de salmão, no ponto, a saber pouco a viveiro, com um bom risotto sem vergonha de ser grumoso q.b.; um bife Pullitzer, clássico, de boa carne e com um camarão bem escolhido ao lado (dizer que ganhou o Pullitzer dos bifes, além de atrozmente previsível, pontuando na escala malucos-do-riso, também não seria verdade).
Ando a estudar um indicador para os restaurantes, que facilite a escrita das crónicas: os adjectivos das entradas tendencialmente aplicar-se-iam às clientes, os das sobremesas às empregadas. Por exemplo: entradas bonitas, comensais bonitas; óptimas sobremesas, empregadas óptimas. Mas o Clube de Jornalistas fugiu a este método. É que as empregadas não são doces, nem os comensais bonitos. Mas são-no as entradas e as sobremesas.
As entradas surpreenderam: carpaccio de lombo, temperado, cortado fino (podia estar mais), com limão; um camarão saganaki intenso (que parecia ter pasta ou concentrado de peixe ou marisco fermentado).
Nas sobremesas, o cheesecake de maracujá bateu o ravioli (!) de ananás aos pontos (qualquer dia os tradicionais rissóis vão passar a chamar-se raviolis de camarão e as chamuças, raviolis do Malabar...).
O serviço é, salvo algumas excepções, agradável na simpatia, sofrível na eficiência. Talvez por terem que galgar as escadas acima abaixo, luísas do Gedeão na Calçada de Carriche.
No jardim do Clube de Jornalistas, a cozinha sensata atenua o cliché comer-ao-ar-livre. Mas não me sai da cabeça aquele chiste do Almanaque Bertrand, contada ad nauseam pelo meu Tio Caetano: diz o pai prá a mãe: querida, hoje vamos jantar fora! (Pausa) Põe a mesa no quintal!


Melhor: Boas entradas, num pátio-jardim agradável.
Pior: Falta de regularidade na cozinha. Tendas tipo casamento no jardim.
Pontuação: *
(Sem estrela - De incomestível a come-se; * - Bom; ** - Muito Bom; *** - Excelente; **** - Excepcional)

Clube de Jornalistas, Rua das Trinas, 127, Lisboa, Tel: 213 977 138, 13h00 -15h00, 20h00-23h30, encerra aos Domingos, aceita cartões, 30€/pessoa.

Contraprovador

  • Lourenço Viegas, 54 anos, é geólogo e crí­tico gastronómico. Colabora semanalmente na Time Out Lisboa. Nasceu em Lourenço Marques e vive no Ribatejo. Tem duas filhas.
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