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20.4.07 

Caracol (Lisboa)

Muito mais simples

Lourenço, você não tem medo de vir a acabar sozinho?
Mas não acabamos sempre sozinhos? A não ser que façamos como o Coreano, na Virgínia...
Credo, Lourenço! Mas não tem medo?
Não, querida, não tenho...
Não sei se acredito. De nada? Não tem medo de nada?
Não vai comer as pataniscas?
Responda lá...
Tenho medo que a menina deixe essas pataniscas no prato.
Tem medo que elas se zanguem?
Tenho.
Não tenho muita fome. (atira a patanisca de um lado para o outro com o garfo) E acho que não estão grande coisa.
Prefere com mais bacalhau? (vai morder o isco)
Sim, isto é só farinha.
Eu não gosto das pataniscas com muito bacalhau. Prefiro-as assim, sérias, gordas luzidias. Também gosto das desconchavadas. Muito finas. Mas isso não é comida de restaurante.
Já pensou para onde é que vamos a seguir, Lô?
Sou crente (não percebeu).
Hã? Vamos beber um gin ali ao (imperceptível).
Gosto mais de gin ao fim da tarde. Posso roubar a patanisca?
Todas. Mas o seu arroz de polvo não estava bom?
Estava, estava. Talvez o polvo um pouco rijo. Mas é difícil acertar. Também é excelente aqui o polvo frito – melhor do que o arroz.
Era o quê, aquele cheiro?
Cominhos.
Você cozinha, lô?
Não me faça perguntas íntimas (nem me chame lô).
[Costeletas de borrego?]
Deve ser engano, não pedimos mais comida.
Sim, é para aqui.
Credo, você vai comer o restaurante todo? (odeio a pergunta. Pior só quando perguntam, quando sobem ao sótão, já leste estes livros todos?)
Eu sei que a menina não gosta de borrego.
Não é não gostar, é só o sabor que... e estou bem.
(não sabe o que perde, temperadas antes, bem fritas, batatas fritas verdadeiras).
Vem muito aqui, Lourenço? (olha à roda, desiludida). Isto é só estrangeiros e já me estou a passar com as piadas do empregado.
Não é empregado, é filho do dono e até são lavadinhos estes estrangeiros... a holandesa da mesa ao fundo comeu as pataniscas todas.
Claro, passa o ano a Muesli. (tiveste alguma piada). Não acredito, mais comida...
Filetes de peixe-galo, tamanho ideal. Bom polme.
Está a falar sozinho? Sabe o que é que eu gosto nos filetes? De tirar a parte de fora e comer só o peixe. Assim... (ameaça o meu prato)
Eu percebi! Não é preciso mostrar. É como comprar um carro com estofos em pele e depois mandar tirar a pele no mecânico lá do bairro.
Nunca vi ninguém comer tanto! O Touareg do Manel tem estofos em pele, clara.
[Sobremesa?]
Mousse de chocolate e leite-creme.
Vai comer as duas?
Vou provar. Gosto da mousse aqui. Mais para o líquido, estruturada q. b. O leite-creme nem tanto. Quer?
Não, Lourenço, não tenho comido doces. A minha nutricionista...
Quem está gordíssimo é o António da Beca.
Ainda se dá com eles. É corajoso!
Dou. Voltei a dar. Gosto de gente boa e normal. Como este restaurante. E já há poucos. Pelo menos em Lisboa.
Podíamos ter ido ao Olivier. Adoro.
Podíamos. Tinha sido tudo mais simples.
Sabe, Lourenço...

Lourenço Viegas
contraprova@gmail.com
www.contra-prova.blogspot.com


Melhor: Pataniscas. A normalidade boa.
Pior: Os pratos que muitas vezes “já acabaram”.
Pontuação: *
(Sem estrela - De incomestível a come-se; * - Bom; ** - Muito Bom; *** - Excelente; **** - Excepcional)
Caracol, Rua da Barroca, 13, 213 427 094, 12h30-15h30, 19h00- 23h30, encerra Sáb. almoço e Domingo, cartões de débito e crédito, 20€ / pessoa.

Contraprovador

  • Lourenço Viegas, 54 anos, é geólogo e crí­tico gastronómico. Colabora semanalmente na Time Out Lisboa. Nasceu em Lourenço Marques e vive no Ribatejo. Tem duas filhas.
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