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9.2.07 

Salsa e Coentros (Lisboa)

Sala e acabamentos

O restaurante Salsa e Coentros é como a campanha do referendo ao aborto: quanto mais ouvimos os que sim gostam, mais não gostamos, quanto mais falam os que não gostam, mais sim gostamos.
O templo da culinária tradicional, para uns, mas que para outros não passava de uma má imitação da Charcutaria por dois jovens imberbes, a quem um ano de sucesso tinha subido à cabeça. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
É um restaurante com boa comida, sem igual naquela parte de Lisboa fustigada por estofadores, talhos e seitas (Av. do Brasil, Av. Rio de Janeiro – tem graça, deve ser karma do nome).
A atitude: a ligeira guturação quando se pede uma reserva para o próprio dia (para hoje?!, ar condescendente, estamos completamente cheios). Foi interessante notar, com escassos minutos de intervalo, a atitude do Salsa e Coentros e do Sant Celoni (Madrid, 2 estrelas Michelin), neste a proporem novas datas, a pedirem o contacto caso haja desistências, a mostrarem apreço por ligarmos a pedir mesa. Os restauradores portugueses (João Pinto Ribeiro a dar uma volta no túmulo) distinguem-se por esta alcançadíssima inteligência comercial (primeira parte da expressão roubada a Camilo).
Felizmente, uma vez conseguida a reserva, o tratamento é mais normal. Por vezes, demasiado normal.

Mais valia que o convencimento correspondesse a esmero no serviço e amor ao pormenor.
Quarenta minutos até à primeira entrada solicitada ser servida, mais quase outros tantos para os pratos. Mas valeu a pena quarenta minutos a esperar por uns ovos de Fiolhoso com míscaros, pouco cozinhados - uma ligação sempre certa (talvez o sal mal distribuído), consistência forte. Depois, um paio da maior qualidade, servido com um ligeiro aquecimento (do prato? do paio?) - truque inteligente que realça o sabor de uma excelente matéria-prima.
Boa alheira, boa moura, bons grelos, bom lombinho de porco (em naco alto) com pimentão.
Felizmente, estávamos na sala de cima, que os coitados da masmorra de baixo tinham de saborear a boa empada de perdiz olfactiva e espacialmente junto das casas de banho e de uma cozinha ruidosa. Ao menos o fluorescente da sala não lhes escondia o queimado no topo da empada. Nota-se alguma desatenção aos fornos: o fígado da entrada (não solicitada) estava também estorricado (mas raspadinho).
As sobremesas, escolhidas de uma carta passada à frente dos comensais, sem politesse, são agradáveis: melhor a encharcada do que a sericaia (assim para o ressequido), melhor o pudim de laranja do que o requeijão (demasiado frio, demasiado denso).
Preços honestos dos sólidos e dos líquidos. Mas já era tempo de não haver entradas não solicitadas na mesa. Ainda por cima, além do fígado de coentrada estorricado, umas favinhas desengraçadas a que podiam ter tirado a casca.
Convém domar a atitude ao telefone. Até porque não é compatível com uma cozinheira de ar extenuado a sair da cozinha com um pequeno bidon de banha de porco e socas de enfermeira. À vista do respeitável público.


Lourenço Viegas

www.contra-prova.blogspot.com

Melhor: Qualidade da mercadoria.
Pior: Ligeiros amadorismos de serviço e cozinha.
Pontuação: *
(Sem estrela - De incomestível a come-se; * - Bom; ** - Muito Bom; *** - Excelente; **** - Excepcional)
Salsa e Coentros, R. Coronel Marques Leitão 12, 218 410 990, fecha aos Domingos, cartões de débito e crédito, 25€ / pessoa.

Contraprovador

  • Lourenço Viegas, 54 anos, é geólogo e crí­tico gastronómico. Colabora semanalmente na Time Out Lisboa. Nasceu em Lourenço Marques e vive no Ribatejo. Tem duas filhas.
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