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6.10.09 

Cantinho das Freiras (3/5)

O self-service da Travessa do Ferragial cheira a colégio. É num edifício velho como um colégio. Tem freiras como um colégio. E a comida sabe a cozinha de cantina como num colégio. E como os colégios são os campos de concentração permitidos pela sociedade, tudo o que cheira, parece e sabe a colégio é um nó no estômago que cheira a apara-lápis no fundo do estojo, ou um calduço que sabe a arroz de bofes.
Mas isto é um problema meu, bem sei. O Colégio dos Carvalhos não foi toranja doce. Adiante. Sempre que vou às freiras das belas-artes fico sem saber o que dizer. As senhoras são simpáticas, são. A vista é boa, é. A causa tem interesse, tem. Mas tenho sempre, já lá vão mais anos do que gostaria, três engulhos com as freiras do Chiado.
1.O self-service. Nunca um buffet, por melhor que seja o hotel, ou self-service, por melhor que seja a cantina, há-de ser bom. É um exame ao grau de comportamento obsessional-compulsivo de cada um: não esquecer o pão, ou o guardanapo, ou abrir a carica do Sumol. E o café pede-se antes, ou é depois noutro sítio. Equilibrismo. A faca que escorrega, o copo que cai no contragolpe para conter a sopa na tigela (normalmente grossa e esboicelada) e depois ter de comer no tabuleiro (como no avião), com o bife de cebolada a rir-se para nós enquanto comemos a sopa e a cada fumegação a suspirar estou a arrefecer, vais comer-me frio se não te despachas. A mousse de chocolate, segunda mulher de um velho amigo, enquanto mascamos a patanisca velha, ali, estática a olhar, na mais provocante das atitudes. E se vamos à mousse antes de acabarmos a patanisca velha, está tudo estragado. Uma baralhação.
2. A comida é de cantina. Não é boa. Nem má. É razoável, diversificada. Todos os dias um prato de carne, outro de peixe, uma sopa, gaspacho no tempo quente (com pouco tempero), uma sobremesa. Tudo com bebida, por volta dos oito euros. É barato. E ajuda-se uma obra de apoio a jovens mulheres.
3. O terraço. O terraço, oh o terraço, o terraço. Comer num terraço em Lisboa é tão bom como ler na praia, ou ter sexo na piscina (fazer amor pareceu-me que não casava com cloro). São coisas mais de dizer do que de fazer. Lisboa tem sol. O sol bate na cabeça, bate na comida. A temperatura do corpo aumenta. As papilas gustativas querem água e não rissóis. Talvez a salada de alface com aquele vinagre forte de cantina, que deve recozer (também podia ser com s) a parede do estômago. A vista é muito boa, mas para quê almoçar ali? Tomar pequeno-almoço, sim, antes do zenith fatal. Comer nas últimas mesas viradas para o terraço, talvez.
Lourenço Viegas

Cantinho das Freiras
Travessa do Ferragial (Chiado)
Lisboa

Contraprovador

  • Lourenço Viegas, 54 anos, é geólogo e crí­tico gastronómico. Colabora semanalmente na Time Out Lisboa. Nasceu em Lourenço Marques e vive no Ribatejo. Tem duas filhas.
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