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24.8.07 

Sul (Ericeira)

Sem Norte

Dizer que um restaurante novo não chega ao próximo Verão e ter razão é mais fácil do que acertar no Benfica – Académica com uma dupla 1-X.
No caso do Sul, na Ericeira, a probabilidade é ainda mais alta e com dificuldade aquela linda varanda verá o solstício de Verão. O que é pena.
É sempre pena quando corre mal um projecto, mas ainda mais pena é quando se nota que houve alguma tentativa de fazer bem.
O espaço é uma tentativa quase conseguida, a comida é uma tentativa falhada, o serviço é um desastre bem conseguido.
O espaço clean, mas demasiado, com luz fria a descer pelos rebordos do tecto, bloco-operatório disfarçado, em cima do mar e das furnas da Ericeira, virado às arribas da Foz do Lizandro.
Na ementa, tenta-se ultrapassar o marasmo cartista do indiferenciado eixo Sesimbra-Ericeira-Peniche (dizem que está melhor) – foge-se ao grelhado no carvão e à massada de cherne (chernes, normalmente do Nilo). Uns ovos (mal) mexidos com uns espargos (fora de época), um creme de cenoura, aquoso, caldo desenxabido.
O esparguete fresco tinha sido cozido na água das amêijoas, ou em caldo de peixe, mas estava sobrecozido; um pregado frito razoável com (um péssimo) arroz de berbigão (num livro de culinária antiga, ainda ontem, vislumbrei um peru recheado de vitela, que não deve ser pior combinação).
Tudo isto através de um serviço caótico, amador, sem rei nem roque, leeento. Tão lento que alguém na cozinha se podia ter lembrado de pôr um grão de sal que fosse no arroz de peixe-galo.
No fim, voltam as cartas para a sobremesa (ah e não há duas cartas iguais, umas com uns pratos riscados, outras não; umas com pratos do dia, outras sem). Uma bolacha de canela com mousse de arroz doce boa (o que é doce nunca amargou), uma pannacotta apudinzada e um tiramisù sem café (não vá alguém perder o sono).
Pode ter sido um mau arranque. Mas, na corrida da restauração, quem arranca mal raramente chega ao fim. A clientela não perdoa, e os rigores do Inverno atirarão para o esquecimento a fonte de más experiências a 35 euros por pessoa.








Lourenço Viegas

contraprova@gmail.com
www.contra-prova.blogspot.com



Melhor: A vista.
Pior: O serviço, os arrozes.
Pontuação: Sem estrela
(Sem estrela - De incomestível a come-se; * - Bom; ** - Muito Bom; *** - Excelente; **** - Excepcional)
Sul, Parque de Santa Marta, Ericeira, cartões de débito e crédito, 35€ / pessoa.

Contraprovador

  • Lourenço Viegas, 54 anos, é geólogo e crí­tico gastronómico. Colabora semanalmente na Time Out Lisboa. Nasceu em Lourenço Marques e vive no Ribatejo. Tem duas filhas.
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