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7.9.07 

Zé Manel dos Ossos (Coimbra)

Ossos

Tal como Ary só podia ter vivido e morrido na Rua da Saudade, só podia ser naquele Beco do Forno, O Zé Manel dos Ossos. Beco do Forno, n.º 12. Beco-do-forno, número doze, poético, cabalístico, óbvio. Medievo.
Desde que me nasceram, no mês passado, três netas de uma vez, ando sensível à questão dos nomes. Até que ponto é o nome que faz a pessoa, até que ponto é que há pessoas apesar do nome.
Também nos restaurantes o nome há-de importar qualquer coisa. Gosto de restaurantes (e de cães) com nome de pessoa, e por isso só podia começar por gostar do Zé Manel dos Ossos, em Coimbra (a ver bem, é nome que tanto dava para restaurante, como para cão).
Para quem gosta de palavras, ossos é das melhores. Os ós e os esses, um corte de tac ao porco desvertebrado, sem a sua suã, que agora sugamos.
No Zé Manel dos Ossos, comem-se ossos, que os ossos também têm que comer. À mão.
Ossos de porco, do espinhaço, cozidos, salgados (não sei agora se salgados-resultado, se também salgados-processo), com broa, que se devem lamber, sorver, trincar e chuchar mesmo antes de os largarmos no prato já ossos-ossadas, secos e bebidos até ao tutano. Um jarro de vinho que pouco importa, a não ser para preparar a boca para a próxima vértebra.
Um ritual primário, de vida e de morte (também Mitterrand acabou a sorver ruidosamente uns ortolans de guardanapo na cabeça), numa cidade onde ainda se comem ossos em vários restaurantes (aqui a paragem no tempo dá pontos a Coimbra).
E quando a companhia se enoja do conceito e do aspecto dos ossos, que vá para o javali com feijão, ou o polvo, ou o bacalhau também dignos da saída da auto-estrada. Também vale a pena a barriguinha na brasa. Sobremesas normais.
Já cronografei a vida de várias maneiras. O nascimento das minhas filhas, barba não barba, antes ou depois da Guerra, antes ou depois do Corte Inglês. Mas para situar eventos especiais uso o evento que escolho para tornar menos vazio o trajecto Lisboa – Porto – Lisboa. Durante uma época, era Fátima Continente da Fé; noutra, Fátima do Tia Alice; durante a maior parte do tempo, o leitão. Mas houve um tempo em que Lisboa - Porto era o Zé Manel dos Ossos, em Coimbra. Um tempo em que reinava a Fernanda, musa do Mondego, que me deixou quando descobriu que não era a sua carne que me fazia parar por lá tantas vezes, mas os ossos do Zé Manel.









Lourenço Viegas

contraprova@gmail.com
www.contra-prova.blogspot.com





Melhor: Ossos.
Pior: Fecha Sábado ao jantar.
Pontuação: *
(Sem estrela - De incomestível a come-se; * - Bom; ** - Muito Bom; *** - Excelente; **** - Excepcional)
Zé Manel dos Ossos, Beco do Forno, 12, Coimbra, 239 823 790, 10h00-00h00, fecha sábado jantar e domingo, cartões
de débito e crédito, 12€ / pessoa.

Contraprovador

  • Lourenço Viegas, 54 anos, é geólogo e crí­tico gastronómico. Colabora semanalmente na Time Out Lisboa. Nasceu em Lourenço Marques e vive no Ribatejo. Tem duas filhas.
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