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25.6.08 

Coliseu Café (4/6)

Refúgio anti-Coliseu

Há um tipo de restaurantes que raramente são bons. O Coliseu Café é desse tipo. Mas é bom. E isto são boas notícias. Porque é muito bom haver restaurantes daquele tipo bons. Por exemplo, uma faca de cozinha com o cabo de metal raramente é boa. Mas quando é, é muito bom. Não é um problema de expectativas. Porque, quando se entra no restaurante ao lado do Coliseu dos Recreios, a expectativa é alta, ou não estivéssemos na rua dos restaurantes com piquetes de empregados à porta agitando ementas como se fossem camaroeiros aos grupos de transeuntes que passam, na rua. Gente que fazia melhor se tivesse entrado no Coliseu Café, um porto de abrigo do Portugal profundo.

Nas portas de Santo Antão é difícil não nos comovermos com os turistas sentados nas esplanadas a comerem sardinhas esturricadas, saladas com matacões de cebola em cima de matacões de tomate, elas com as pernas escaldadas, o formato das birkenstocks gravado a branco, vias lácteas na carne rósea.
E por isso o restaurante do Coliseu é uma tábua de salvação nesse mar de tascos e marisqueiras decrépitas.
O restaurante do Coliseu é do tipo internacional-cool, o que naquele contexto atrai. Música eclética, televisões com telediscos, carta babel (cozinhas misturadas). Empregadas com avental da Pepe Jeans. O anti-Coliseu. O Coliseu dos Recreios, por mais obras que tenha, é daqueles sítios com pior energia do Mundo, um misto de orfanato e termas, longos corredores que os lutadores de boxe percorrem nos filmes. Sempre desconfortável, demasiado grande ou demasiado pequeno.
Bom gaspacho, estilizado, passadinho, saboroso, tapenade forte, pão com passas, imperial bem tirada. Lá fora, um turbilhão de gente, uns em contramão, porque a rua das portas de santo Antão só tem um sentido, que é da cidade para o rio – quem a sobe vai ao contrário e isso nota-se na cara um pouco encavacada de quem sabe que devia ir, por fora, pelos Restauradores e Av. da Liberdade.
Também é boa a carne, uns bifes bem vistos (bife argentino com molho chimchurri, digno, apesar do nome), com cuidado na escolha da carne, nos óleos da fritura das batatas (que podiam ser verdadeiras), nas saladas que acompanham. Se fosse um bife gostava de ser argentino. Dá assim um ar meio pelintra meio importante...
E é isto que é o melhor do restaurante, é que se nota que há um cuidado com a comida: no atum e no bacalhau, nos doces (uns pontos abaixo do resto, excepto uma sobremesa de banana e um pudim de café que recordo com agrado, mas cujo nome está esquecido); também bom o no café bem tirado. No serviço, que é discreto e simpático, com falhas de eficiência que se desculpam. Nos filetes de linguado, tão tradicionais, que surpreendem num sítio tão moderninho. Um bom arroz com pimentos.
E este texto é também uma resposta a todas aquelas lamúrias e pedidos de sítios giros e novos com comida moderna. Seja lá isso o que for. Lourenço Viegas

Time Out Lisboa, 25 de Junho de 2008

Coliseu Café
****Bom
Rua das Portas de Santo Antão, n.º 92

Contraprovador

  • Lourenço Viegas, 54 anos, é geólogo e crí­tico gastronómico. Colabora semanalmente na Time Out Lisboa. Nasceu em Lourenço Marques e vive no Ribatejo. Tem duas filhas.
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