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15.2.10 

Panorama (4/5)

Durante muitos anos confundi certas coisas opostas. É estranho isto de caldear, misturar, tomar uma pela outra, coisas que são em tudo diferentes das outras. Acontecia-me com o João Braga e o Carlos do Carmo. E com o Ritz e com o Sheraton.
Mas são opostos, as vistas, a classe, as pessoas.
Fala-se muito da vista do Sheraton. Mas as vistas não são coisas de falar, mas de ver; ou melhor, como o nome diz, de serem vistas. E a vista do Sheraton não é boa de ser vista. É boa de se ver, mas não de ser vista. Uma boa vista deixa-se ver, de mansinho, devagar. A do Sheraton impõe-se, na cara, aquela sensação primeira vez em Nova Iorque, a posição esdrúxula do mono, a dar-nos uma perspectiva pouco comum da cidade (faltam referências, pontos, linhas). Depois aquele bar, antes do restaurante, com um piano transparente. Percebo pouco de bares de hotel, e menos ainda de pianos transparentes, mas um bar num último piso de um hotel com um piano transparente é sítio onde não me sinto tranquilo.
Não sou crítico de hotéis (se a independência é rara na crítica de mesa, dizem que na imprensa de cama é como a liberdade de opinião na Coreia do Norte – estar aqui a escrever Portugal corria o risco de desactualização da piada e sei que estes textos hão-de um dia acabar nos manuais escolares), mas se fosse crítico de cama não podia deixar de notar os borrifadores de cheiros junto às colunas que volta e meia dão um traque floral pssssss-pssssss.
E já vai grande a introdução e até parece, e é verdade, que ando para aqui a querer fugir a falar da comida (lembro aqui uma crítica ao Tavares num soalheiro semanário em que o crítico dizia numa linha ah isso da comida não estava ao nível mas também pouco importa e siga...). É que a comida do Panorama do Sheraton (com o chef Leonel Pereira) está entre o boa e o aceitável. Tem coisas boas e tem coisas normais.
Naquela sala com vista, mais disfarçada do que no bar do piano transparente e dos borrifadores automáticos, são bons os pedaços de foie-gras lacado com vinho, bem escolhidos, limpos, no ponto, mas as farófias de vinho do Porto branco (mas de aparência tinta) adiantam alguma coisa? Em textura (demasiado idêntica)? Em sabor (o sabor da farófia é conhecido...)? O que vale é que uns camarões da entrada, rijos, grandes, corados ou mesmo vermelhos, mostravam o melhor lado da carta. Lado também à mostra no atum, de duas categorias, da barriga e do lombo (?). Na barriga, as linhas de gordura eram evidentes, tornando mole o interior daquele belo cubo, em oposição a um exterior tostadinho. Também bom estava o lavagante azul (mas a cada trincadela, a lembrar-me daquele capitão na Guerra a dizer que no mato não se pode comer nada azul e o furriel sempre com a mesma resposta, de que no mato nada era azul). O bife wagyu é uma coisa interessante, mas falta-me bitola para saber se é sempre assim para o normalzinho ou se era apenas a este que faltava qualquer coisa. Sobremesas normais, com nomes pretensiosos.
Boas opções no menu de almoço, mais barato. Talvez por ser o Steven Seagal que está nas cozinhas, é sempre melhor escolhermos o mar sobre a terra, ou seja, o peixe sobre carne. Ham?! Sim, o chef Leonel Pereira é gémeo do Steven Seagal (google images) e este fez, em 1992, o Força em Alerta em que era um marinheiro que salvava mundo (imdb). É preciso explicar tudo?
Lourenço Viegas

Panorama (Hotel Sheraton)
Rua Latino Coelho, 1
Lisboa

Contraprovador

  • Lourenço Viegas, 54 anos, é geólogo e crí­tico gastronómico. Colabora semanalmente na Time Out Lisboa. Nasceu em Lourenço Marques e vive no Ribatejo. Tem duas filhas.
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